21 agosto 2018

VIAGEM DE ESTUDOS 2018/1 – CÓRDOBA E ROSÁRIO: VIVENCIANDO A ARQUITETURA ARGENTINA

Em maio de 2018, o curso de Arquitetura e Urbanismo da ULBRA campus Torres foi às cidades de Córdoba e Rosário, na Argentina, em sua tradicional viagem de estudos. 
Córdoba e Rosário são as duas maiores cidades do interior da argentina. A primeira foi fundada em 1573 e por sua localização central sempre foi um importante centro urbano, sua urbanização leva a marca das cidades coloniais espanholas, com uma malha urbana em quadrícula regular com centro na então Plaza Mayor, onde se encontram os principais edifícios da época como a Catedral e o Cabildo. Córdoba concentrou as atividades da Companhia de Jesus durante boa parte do século XVII e ainda guarda relevante legado deste período, como o conjunto edificado da Manzana de las Luces. A ocupação urbana se densificou durante o século vinte e apresenta obras arquitetônicas relevantes de diferentes épocas, com destacada presença no cenário da arquitetura moderna e contemporânea.
Rosário, às margens do Rio Paraná foi cenário de eventos históricos como o primeiro içamento da bandeira argentina em 1812. A cidade se desenvolveu como entreposto comercial e centro industrial em função de ter o mais importante porto fluvial do interior do país. Recentemente a orla do Rio Paraná vem passando por uma série de intervenções urbanísticas que resgatam antigas instalações portuárias para novas atividades e devolvem a margem do rio para fruição da população.
O grupo de alunos, acompanhado dos professores Breno Clezar Júnior, Efreu Quintana, Marcos Bueno, Renata Matos e da coordenadora Thaís Menna Barreto, partiu de Torres no dia 19 de maio com destino à Córdoba, onde, já na chegada, iniciou o roteiro de visitas arquitetônicas.
Em Córdoba, o curso de Arquitetura e Urbanismo foi recebido como “invitado de la cuidad” e atenciosamente atendido pelas Secretarias Municipais de Turismo e Cultura que, junto com a Universidade Provincial de Córdoba dispuseram guias que ciceronearam o grupo e prepararam as recepções especiais nos locais visitados para os alunos e professores da ULBRA Torres.
Já na primeira visita, a recepção foi feita pelo Arquiteto Lucio Morini, um dos mais expressivos da atual geração de arquitetos cordobenses. Autor de vários dos mais relevantes edifícios públicos recentes, Morini guiou o grupo pelo complexo Cielo y Tierra, centro de divulgação científica, que conta com exposições educativas sobre o planeta Terra e o Universo. O edifício, de concepção arrojada, é composto por dois dodecaedros semi-enterrados, e contém planetário e torre de observação astronômica.


O grupo seguiu, dali, para o Palácio Ferreyra, um palacete de 1919 projetado pelo arquiteto francês Ernst-Paul Sanson com paisagismo de Carlos Thays. Restaurado em 2007, foi convertido em Museu Superior de Bellas Artes Evita, com projeto do escritório GGMPU junto com Lucio Morini.


A visita foi, em seguida, no Paseo de las Artes, uma feira de artesanato que funciona numa área de antigas casas operárias, revitalizadas na década de 1980 pelo importante arquiteto Miguel Angel Roca. Para terminar o dia, o grupo circulou pelo bairro Guëmes e confraternizou no centro gastronômico Muy Güemes, que funciona num pavilhão industrial adaptado ao novo uso pelas arquitetas Agostina Gennaro e María josé Péndola.
Na segunda-feira, o roteiro começou no Jardín Botánico de la Municipalidad de Córdoba, cujo projeto do edifício principal, de 1999, com autoria dos arquitetos Carlos Barrado e Mónica Bertolino, apresenta linguagem que une o brutalismo com uma arquitetura regional, utilizando técnicas e materiais locais. O Jardim Botânico, faz parte, junto com Universidade Livre do Ambiente (ULA), também visitada pelo grupo, de uma operação urbana para resgatar a qualidade ambiental do arroio Infernillo, e localiza-se onde antes havia um aterro sanitário.
 


O grupo foi, em seguida, ao Palácio Municipal: um edifício moderno resultado de concurso público vencido pelo grupo SEPRA em 1953. A partir do terraço do edifício, observaram-se as edificações modernas do centro da cidade e as praças Paseo Sobremonte – primeiro parque público de córdoba, Plaza Italia – projeto de Miguel Ángel Roca e Plaza de la Intendência. O grupo seguiu a pé pelo arroio La Canhada para avistar alguns exemplares da arquitetura moderna de Córdoba, entre eles edifícios projetados por Jaime Roca e Togo Díaz. 
O próximo local visitado foi o Centro Cívico del Bicentenário, nova e imponente obra que abriga o centro administrativo provincial e a casa do governador, também projetado por GGMPU e Lucio Morini.


As visitas da tarde foram nas universidades provincial e nacional de Córdoba. O grupo conheceu o campus Cidade das Artes da Universidade provincial de Córdoba, construído a partir da reciclagem de pavilhões do antigo quartel do exército. No campus estão as faculdades de artes visuais, escultura, cerâmica, música, teatro e dança, um teatro e um edifício com ateliês para artistas. 
Na Universidade Nacional de Córdoba, o grupo foi recepcionado na Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Desenho. A professora Arquiteta Silvana Mocci recebeu e guiou os alunos e professores do curso pelo edifício, onde todos puderam conversar sobre as diferenças e semelhanças do ensino de arquitetura aqui e lá, onde mais de nove mil alunos são atendidos em modalidade 100% presencial.


No dia seguinte, foi a vez de percorrer o centro histórico: começando pela Praça San Martín, a praça fundacional da cidade, onde o grupo foi recebido pela subdiretora de turismo da municipalidade de Córdoba, professora Maria Belen Urquiza, que pessoalmente guiou o grupo nas visitas aos prédios históricos do centro, como o Cabildo Histórico. Cabildo é nome das antigas sedes de governo das cidades coloniais espanholas, e o de córdoba data de 1588, sendo adaptado e ampliado em 1786 pelo engenheiro militar Don Manuel López. Funciona, atualmente, como museu e sede do instituto do instituto do patrimônio histórico. A Catedral de Córdoba – Igreja de Nuestra Señora de la Assunción, iniciada em 1582, teve sua fachada de inspiração renascentista projetada pelo arquiteto italiano Andrea Bianchi, em 1706, As torres foram concluídas somente em 1787, já com uma linguagem barroca.


Da catedral, o grupo seguiu para a Manzana Jesuítica, ou quarteirão das luzes, um conjunto de construções realizadas pelos Jesuítas, que chegaram à região em 1589. Neste local, tem-se a igreja da Companhia de Jesus, o Colégio Nacional de Monserrat e a antiga sede da Universidade Nacional de Córdoba, que foi a primeira do país e uma das primeiras de toda a América. No acervo da biblioteca, estão exemplares raríssimos, tais como algumas das mais antigas impressões da Bíblia, realizadas no século XVI, e o tratado de Leon Batista Alberti, cuja primeira publicação data de 1485.
O percurso pelo centro continuou pelas peatonais, por um sistema de vias exclusivas de pedestres projetadas na década de 1980 por Miguel Ángel Roca, arquiteto responsável por importantes obras urbanas da cidade. Nessa intervenção, as fachadas das edificações históricas são rebatidas no desenho do piso. O percurso pelo centro terminou na Cripta Jesuítica, um sítio arqueológico sob uma importante avenida, que revela o início da construção de uma igreja pelos jesuítas, cuja obra inacabada teve diversas outras utilidades até ser soterrada pelo crescimento da cidade. 
Essa tarde teve, ainda, visitas a duas obras recentes: o Centro Cultural e Arquivo de Córdoba, projeto selecionado por concurso público vencido pelos arquitetos Castañeda, Cohen, Nanzer, Saal, Salassa e Tissot, em 2014, cujo partido adota a estratégia de uma topografia operativa conectando o Parque Sarmiento à cidade por um passeio que é a própria cobertura do edifício, e o Museu Provincial Emilio Caraffa, construído em 1915 pelo arquiteto Johannes Kronfuss e restaurado e ampliado em 2008 pelo escritório GGMPU, junto com Lucio Morini.



O itinerário em Córdoba teve encerramento com a visita à Igreja neogótica do Sagrado Coração de Jesus, igreja dos capuchinhos e, logo após, happy hour no Paseo del Buen Pastor, um centro comercial e gastronômico no local em que funcionou uma antiga prisão.
No dia seguinte, o destino foi o ponto alto da viagem. No caminho entre Córdoba e Rosário, na localidade e La Playosa, encontra-se a Capilla San Bernardo, um premiado projeto do Arquiteto Nicolás Campodonico. Tratando-se de uma capela familiar, na propriedade dos pais do arquiteto, foi construída com tijolos que pertenciam a uma antiga casa que havia no lugar. Sua forma é ao mesmo tempo simples e inusitada, e nela se reconhecem elementos clássicos da arquitetura religiosa: a entrada obscura que se abre num interior amplo e luminoso, a técnica tradicional da abóbada em que os esforços de compressão mantém a forma e descarregam o peso nas paredes estruturais e o efeito poético da cruz, que é formada pela sombra projetada de dois elementos de madeira que lembram o braço horizontal da cruz carregado por Cristo durante a via crucis e que vai formar a cruz completa quando encontra o poste cravado no monte do calvário. 




Na quinta-feira, para coroar a viagem, o grupo foi recebido pelo próprio Nicolás Campodonico em seu escritório na cidade de Rosário. Nicolas, sempre muito cordial, deu uma verdadeira aula ao explicar o desenvolvimento do projeto e da obra da capela e de outros edifícios, demonstrando contagiante entusiasmo e paixão pelo ofício de arquiteto.


Em Rosário, o grupo percorreu a Plaza 25 de Mayo, onde a cidade teve seu início histórico, e onde situa-se a Catedral de Nuestra Señora del Rosario e a sede da prefeitura no chamado Palácio dos Leões, um edifício de 1896 do arquiteto italiano Gaetano Rezzara cuja arquitetura em estilo renascentista lembra a dos palácios fiorentinos. Entre esses dois edifícios, uma passagem leva ao Monumento Nacional à Bandeira, obra colossal erguida nos anos 1940, com projeto de Alejandro Bustillo e Ángel Guido, no local em que foi içada pela primeira vez a bandeira argentina, durante as guerras de independência, pelo General Belgrano.


Em Rosário ainda foram visitados outros importantes exemplares de arquitetura contemporânea e pós-moderna: O Centro Municipal Distrito Sur Rosa Zieperovich é, junto com a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, um dos dois projetos do arquiteto português Álvaro Siza Vieira na América Latina. Realizado em 2002, faz parte de uma iniciativa de descentralizar os serviços municipais.


O novíssimo Acuário do Rio Paraná, obra de 2018 do escritório LOF arquitectos, de Santa Fé, faz uso de uma linguagem arquitetônica contemporânea e museografia interativa para criar um moderno centro de pesquisa e educação acerca do ambiente natural, da dinâmica ecológica e das espécies que habitam o rio Paraná.


O ultimo ponto de visitação foi o Complexo Cultural Parque España, local que abriga midiateca, teatro e salas de exposições. Com projeto dos arquitetos catalães Matorell, Bohigas e Mackay, sua execução foi doada pelo governo espanhol. A construção é uma adaptação de uso de túneis e silos que compunham antigas estruturas portuárias.
Com a vista do pôr do sol no Rio Paraná, foi encerrada a visita, dando início ao retorno a Torres. O Curso de Arquitetura e Urbanismo agradece aos professores que organizaram a viagem, realizaram aula preparatória e acompanharam e guiaram os alunos, podendo lecionar arquitetura in loco, uma experiência fundamental na formação dos novos arquitetos e que somente um curso presencial e de excelência pode proporcionar semestralmente, como faz a ULBRA Torres. Agradecimentos também à Coordenação do curso e à direção do campus que incentivam e viabilizam tão importantes atividades de extensão. Especial agradecimento a todos aqueles que tão bem e prestativamente nos receberam nas cidades e locais visitados, e ao excelente grupo de alunos interessados que fizeram desta uma ótima experiência.